Dor Lombar- O que é?
O termo dor lombar (LBP) foi definido como " dor, tensão ou fraqueza muscular localizada entre L5-S1 e acima da prega glútea”. Podendo irradiar-se para os membros inferiores e apresentar-se de 3 formas: dor lombar, dor na coxa ou dor combinada .
Epidemiologia:
A dor lombar é um problema de saúde pública, com mais
de um quarto da população ativa afetada e com cerca de 60 a 80% da população a
experienciar esta patologia numa determinada fase da vida(2)(3)(4)(5).
Tornando-se na maior categoria de reivindicações médicas por longos períodos
(mais de 90 dias de trabalho perdidos) (5), colocando uma grande carga sobre as
pessoas e os sistemas de saúde. A dor lombar é a condição mais comum para que
sejam utilizadas as terapias complementares(2).Tem sido considerada como uma
condição cada vez mais dispendiosa e consequentemente é relevante providenciar
intervenções eficazes de baixo custo de modo a aumentar os resultados da
intervenção e a obter o máximo de benefícios relativamente a orçamentos
disponíveis no âmbito dos cuidados de saúde. Nos Estados Unidos, 40% de todos
os pedidos de indemnização derivam da lombalgia. Esta situação é semelhante na
Grã-Bretanha, onde a média estimada - anos de prevalência nos inquéritos à
população britânica é de 38%(5). No caso de Portugal, a LBP é motivo de cerca
de 56% dos casos das consultas de medicina geral e familiar(6). Registando uma
taxa de incidência de 74% e uma taxa de prevalência de 31% para a população
portuguesa (1). Etiologia:
A etiologia desta patologia parece ser complexa e multifactorial, com componentes associados com a cronicidade, tanto biológicos , (dentro dos quais englobamos os factores mecânicos, infecciosos, inflamatórios, metabólicos, neoplásicos e viscerais ) como genéticos e psicossociais (2). Entre os fatores de Risco De modo geral podemos considerar :1. Fatores de risco individuais O sedentarismo é também especulado como uma das causas de dor lombar, (4) (5) (3). O excesso de peso ou a obesidade é considerado também um fator de suscetibilidade a esta patologia (5), para além do género. O resultado de uma meta analise mostra que a associação entre excesso de peso ou obesidade e a prevalência de dor lombar é mais forte para as mulheres que para os homens, o que pode ser explicado pelo facto de que o elevado IMC nos homens pode refletir a elevada massa muscular, já em mulheres, isso pode indicar excesso de tecido adiposo (5) (6) (3). Para além das dores menstruais, dores de parto etc(5). Outro fator sugerido por alguns autores de suscetibilidade á dor lombar é a idade (está comprovado que se verifica aumento substancial de dor crónica lombar entre os 60 e 65 anos) (8) (3).
2. Fatores de Risco Psicológicos: A lombalgia está também associada a outro tipo de distúrbios ou condições psicológicas como o stress, stress no trabalho, o humor, a ansiedade (9), as emoções, as funções cognitivas e o comportamento perante a dor (3).
3. Fatores de risco relacionados com a Ocupação: Para além da postura sentada, que se tornou hoje em dia na postura mais comum para trabalhar, devido ao rápido desenvolvimento da tecnologia moderna, “Sentado” é descrito como uma postura em que a cabeça e o tronco se posicionam na vertical, as pernas estão dobradas fazendo um ângulo de cerca de 90º com as coxas e joelhos, e os pés estão firmemente colocados no chão. (11) Muitos estudos têm-se centrado na biomecânica de hipóteses para explicar a associação entre a postura de sentado e a dor lombar, embora sejam um pouco contraditórios. Uns apoiam a teoria que a pressão intradiscal aumenta com a postura sentada, outros comprovam que essa pressão é maior na postura de pé. Outra hipótese é que pode haver um efeito negativo na nutrição do disco intervertebral em prolongadas posturas sentadas, da mesma forma afirmam que o disco é nutrido com a mudança de posição (11).
Sintomas:
Pessoas com LBP apresentam como sintomas principais: alterações no padrão de marcha, uma fraca proprioceção/equilíbrio, um aumento de tónus a nível dos músculos para vertebrais (11). Estudos fisiológicos apresentaram uma disfunção postural e padrões alterados de ativação dos músculos abdominais e extensores que foram verificados em atividades como a flexão á frente e o sentado para de pé, demonstrando que os pacientes com LBP podem apresentar um atraso no aparecimento de atividade dos músculos profundos do tronco quando a estabilidade da coluna vertebral é alterada em tarefas dinâmicas. Apresentam redução da força muscular e da endurance, comprometendo a estabilização e a flexibilidade da coluna (11). níveis mais baixos de atividade, menor velocidade de marcha, menor 9 tempo em posição bípede e maior tempo de repouso, em comparação com pessoas saudáveis (11).
Mecanismos de Lesão: Degeneração do
disco intervertebral: Pode em alguns casos a dor lombar estar associada à
degeneração do disco. As forças de stress a que a coluna lombar está sujeita
reduzem a quantidade de água presente no núcleo pulposo. Por outro lado, o fator
envelhecimento diminui o número de células e proteoglicanos (proteínas
intracelulares ligadas ao glicosaminoglicanos que captam as moléculas de água e
são responsáveis pela função de dar à matriz extracelular uma característica
hidratada ao núcleo) (12; 13). Desta forma, a degeneração ao nível molecular,
será expressa pela produção de componentes anormais da matriz ou por um aumento
nos mediadores da degradação da mesma (12). Hérnia de Disco Ocorre quando as
fibras mais externas do disco intervertebral (anel fibroso) estão sujeitas a
cargas repetidas de stress, originando um aumento da pressão intradiscal e uma
consequente saída do conteúdo interno desse mesmo disco (núcleo pulposo). Isto
coloca em tensão as raízes nervosas adjacentes à estrutura, nomeadamente a raiz
de L5, comprometendo desta forma o nervo ciático e originando uma dor regional
local ou dor irradiada para os membros inferiores (14). Estenose do Canal
Raquidiano: Diminuição do espaço ocupado pelo canal raquidiano. Este canal
contém a medula espinhal desde a porção cervical até à porção lombar alta. A
porção média e a inferior do canal lombar contém as raízes nervosas da chamada
cauda equina. Esta diminuição é na maioria dos casos originada por osteoartrite
(15) e poderá desencadear uma compressão ao nível das raízes da cauda equina e
determinar dor regional lombar ou outros sintomas neurológicos irradiados para
os membros inferiores, como a claudicação intermitente, dor, fraqueza dos
membros, perda de sensibilidade, perda de controlo dos esfíncteres (14).
Atrofia dos músculos Paravertebrais: o reflexo da inibição induzida pela dor
conduz à atrofia músculos paravertebrais e consequentemente atrofia dos
ligamentos e articulações. A dor vai resultar num espasmo muscular e tensão, e
eventualmente essa situação agrava a dor num ciclo vicioso.
Pratica Fisioterapeuta no Tratamento
Lombalgia: De entre inúmeras estratégias de intervenção amplamente
utilizadas na gestão da LBP apontamos o exercício terapêutico, como sendo um
tipo de intervenção mais utilizado no tratamento conservador, podendo este ser
aplicado a um indivíduo ou a um grupo, trabalhando isoladamente ou integrado
num programa de tratamento multidisciplinar, sob a supervisão do terapeuta ou
sob a forma de exercícios domiciliares, com ou sem utilização de máquinas
/equipamento, em terra ou em água; fazendo variar os seus exercícios na
intensidade, frequência e duração (16). Diretrizes baseadas em evidências para
o tratamento e gestão da LBP recomendam o exercício e atividade dentro de um
período inferior a 12 semanas, em oposição a modalidades de tratamento passiva
(por exemplo, tração, massagem, mobilização.) A evidência suporta a duração de
6 a 8 intervenções, incorporando o tratamento em grupos de 10 elementos no
máximo, com um ambiente agradável, supervisionado e graduado na intensidade. A
intensidade do exercício aumenta de 50 para 60 minutos, de moderada a intensa
(17) (18). O exercício terapêutico incide a sua prática em inúmeras componentes
físicas, incluindo a aptidão física global ou exercício aeróbio; exercícios de
flexibilidade/alongamento, (19) estabilidade, equilíbrio e coordenação; força e
resistência muscular (20). 11 A atividade física através de alongamento,
apresenta benefícios moderados em indivíduos com um índice de incapacidade
moderada face á dor lombar (21) (22). Vários exercícios tem sido citados
recentemente incidindo a sua abordagem na componente de controlo motor
(estabilidade, coordenação) e força tendo em vista a estabilidade dinâmica da
Core, e utilizando grupos musculares como o transverso, multífidos, abdominal,
diafragma, e os músculos pélvicos (23). A justificação da sua aplicação
prende-se com o facto das pessoas com LBP apresentarem alterações na
estabilidade e controlo da coluna, para além de um mau alinhamento postural,
indicando um aumento da rigidez da coluna vertebral como compensação da falta
de estabilidade dos músculos profundos e aumentando a atividade dos músculos
superficiais (24).
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